Na praça Vereador José Mendes, em frente ao Paço Municipal de Ibiúna, encontra-se o monumento em homenagem aos estudantes que participaram do 30º Congresso da Une na cidade.
O texto a seguir foi extraído do trabalho de conclusão de curso (TCC), 2016, intitulado “O XXX Congresso da UNE em Ibiúna – 1968, e a participação na resistência ao golpe militar de 1964”, autoria de Marcelo Cardoso Melo da Silva, graduado em História pela Universidade de Sorocaba.
A cidade de Ibiúna está localizada a cerca de 70 km da capital São Paulo, cidade predominantemente agrícola desde sua fundação, raramente houve um fato que a colocasse em um enfoque de repercussão nacional a não ser por seus condomínios de alto padrão e natureza abundante ao qual lhe conferem o título de estância turística. Mas em outubro de 1968, isso iria mudar, pois as maiores lideranças estudantis do país iriam nela se reunir para a eleição de seu mais novo presidente além de discussões sobre ações efetivas do movimento estudantil e de resistência à ditadura que vigorava desde 1964.
O local escolhido para a realização do congresso foi o sítio Murundu que está localizado a cerca de 22 km do centro da cidade. Essa escolha foi ambígua, pois se mostrava muito boa em pontos como localização geográfica – lembrando que a UNE (União Nacional dos Estudantes) e UEE (União Estadual dos Estudantes), estavam na clandestinidade – e o auxilio da mata era primordial caso houvesse necessidade de fuga ou resistência, porém o mesmo local era de grande dificuldade em quesitos como: acomodação dos mais de 700 estudantes presentes, escassez de produtos de higiene pessoal, alimentos e locomoção – ocorrida em função da má conservação da estrada de terra que dá acesso ao local – e a chuva que pairava sobre aquele outubro tornando a lama outro ponto fraco desta escolha.
O jornal Folha de S. Paulo, que tem notoriamente uma vertente mais conservadora e após a queda do congresso, noticiara na manhã de 13 de outubro de 1968, que “cerca de mil estudantes que participavam do XXX Congresso da UNE, iniciado clandestinamente num sítio, em Ibiúna, no Sul do Estado, foram presos ontem de manhã por soldados da Força Pública e policiais do DOPS”.
Este início de notícia mostra como a imprensa, a grande propagadora de opinião, retratou o fato desmerecendo totalmente os envolvidos e suas causas. E até mesmo exaltando a atuação da Força Pública e do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social São Paulo).
Esta análise se dá em um período de tempo especifico que vai de 12 de outubro de 1968 á 19 de outubro de 1968, onde os resquícios do congresso ainda circulavam na mídia.
O Jornal Última Hora, na contramão aos meios de comunicação de massa da época, ainda mantinha certo apreço e concordância com as movimentações e manifestações conta o regime.
Um exemplo disto é o teor mais crítico/informativo de suas matérias como a de uma coluna onde se lê a chamada “Os Estudantes” e no decorrer da notícia vemos certa crítica ao governo vigente “Uma nação onde interesses pessoais se impuseram sobre as mais genuínas aspirações gerais por largo tempo”.
O livro “1968 O ano que não terminou”, do jornalista Zuenir Ventura ao qual dedica três capítulos ao congresso desde suas causas precedentes às suas consequências pós-prisões, é essencial para o desenrolar, dessa pesquisa, juntamente com, 1968 – O diálogo é a violência de Maria Ribeiro do Valle.
Além de depoimentos de estudantes e lideranças do congresso como, José Dirceu presidente da UEE-SP e candidato a presidência da UNE naquele ano; Vladimir Palmeira, então presidente da UME (união metropolitana dos estudantes); Domingos Simões, proprietário do sítio onde fora realizado o congresso e simpatizante comunista; além do tido como delator do congresso o lavrador ibiunense Miguel Vieira de Goes; e publicações da UNE sobre os andamentos do ME a partir do Congresso.
Esses depoimentos registrados nos livros se fazem fonte riquíssima de informação, pois trazem a visão de quem realmente estava lá e livre de qualquer influência editorial ou conservadora.
Ventura (1988, p. 230) em uma passagem do livro afirma:
“Olhando retrospectivamente o XXX Congresso da UNE mais do que um erro foi um ato politicamente suicida, não se conhece uma organização capaz de reunir cerca de mil pessoas clandestinamente, é evidente que a polícia descobriria”.
Essa temática é de forte relevância para se entender os rumos dos movimentos sociais, estudantis e qualquer outra manifestação de grandes massas da população após o discurso considerado subversivo do deputado Márcio Moreira Alves na Câmara dos Deputados, em 2 de setembro de 1968 juntamente com o Congresso de outubro de 1968, pois estes atos isso renderam duras represálias do governo Costa e Silva que vieram por culminar no tenebroso Ato Institucional nº 5 (AI-5), que proibia, criminalizava e previa penas a quaisquer organizações sociais além de dar plenos poderes ao presidente sem qualquer intervenção prévia encontrada em lei.
O XXX Congresso da UNE se deu após eventos turbulentos e por vezes truculentos, onde a repressão legitimada pelo governo ditatorial e a violência empregada pelas forças públicas de segurança e grupos de extrema direita ao ocorrer algum embate com estudantes são postos a tona em seu estado mais íntimo violência por violência.
O Congresso foi interrompido abruptamente, suas lideranças presas e isoladas. O governo naquele momento gozou de uma “vitória” sobre os “agitadores sociais” (como são tratados os estudantes) jamais vista antes da desarticulação A falta evidente de preparo do Congresso hoje pode ser apresentada como um dos tantos motivos de sua queda, mas em 68 por tratar-se de uma cidade pequena também é plausível as visões apresentadas pela imprensa que circulava na época, que além da infiltração dentro do ME, a grande movimentação na cidade em função da chegada de 700 pessoas que vinham e consumiam mantimentos e outros sérvios da cidade tenha despertado olhares curiosos por parte da população e olhares mais atentos por parte da polícia.
As propostas do ME eram viáveis, mesmo dividido internamente em 2 pontos principais ambos desejavam o fim da ditadura, a melhoria na condição de vida da população além de melhoras e reformas no sistema universitário e fim da manipulação e monopolização imperialista